domingo, 4 de fevereiro de 2007

Por um fio

Na sua seção habitual no El País Semanal, Àlex Rovira escreve hoje sobre as circunstâncias da vida que nos lembran a fragilidade da existência e nos fazem repensar sobre nossos objetivos.

Atardecer en Puerto Barrios

O vendaval originado por estes golpes acostuma a abrir janelas que mostram uma paisagem com veredas totalmente diferentes as que a pessoa estava seguindo. Nesta nova visão, os seres humanos de nosso redor ganham uma dimensão nova, e cada momento autêntico passado com eles adquiere um valor bastante superior ao de qualquer posessão material.

Iris Baleeiro me presenteou o livro Por um fio do médico Drauzio Varella (Companhia das Letras, 2005); nele, o autor conta histórias de doentes aos quais a saúde puz a vida em jogo, e esta curcunstância lhes fiz reconsiderar o valor de seus valores. "Nada transforma tanto o homem quanto a constatação de que seu fim pode estar perto".

Testemunha extraordinária desta reflexão é a história em primeira pessoa que conta Eugene O'Kelly em Momentos Perfeitos ("Momentos Perfectos", Alienta Editorial - Barcelona, 2007): os médicos diagnosticaram um tumor cerebral a este conhecido diretor da consultora KPMG de 53 anos; só tinha três meses de vida. Decideu vivir essas horas com a máxima intensidade, e fiz isso fortalecendo as relações com as pessoas que tinham um significado para ele; com isso consiguiu transformar o máximo número de instantes em "momentos perfeitos".

La Revista Negra de Jérôme Savary que se apresenta em Barcelona me faz pensar no tema. Já falei dela no post do 27 de janeiro. Ontem voltei a assistir este musical com meus filhos Maria e Martí.

Porém, durante a semana passada entre as duas apresentações aconteceu uma coisa. A quarta 31 de janeiro, o ator e músico Jimmy Justice (não deve se confundir com o cantante de rock) de 75 anos, morreu sobre o cenário pouco antes de terminar a sessão, enquanto ele interpretava seu papel de Jimmy, um entranhável jazzman que zanzava pela Nova Orleans devastada pelo furacão Katrina e explicava a história dessa música com sua voz poderosa e gutural, e seu sorriso de gigante bonachão.

A companhia, com aquela fortaleza que dão os golpes baixos da vida, decideu retomar as apresentações e transformar a obra num homenagem ao seu colega Jimmy. Um homenagem sem estridências nem barulho. Só podem perceber-lho as pessoas com a fortuna de ter assistido as apresentações antes e depois de sua desaparição: nenhum ator novo esta substituendo o Jimmy; porém os atores e cantantes piscam a olho de de forma quase impercetível, mas cheios de emoção. Por exemplo o sentido "I Love you, Jimmy" que encerra um triste blues com una coreografia excelente sobre imagens do Ku-Klux-Klan projetadas em branco e preto sobre a enorme tela de fundo.

Enlaces de interesse:
Àlex Rovira: Reveladora fragilidade
Drauzio Varella - Por um fio (Companhia das Letras)
Jérôme Savary
Jimmy Justice

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