Uma cena do filme Melinda e Melinda de Woody Allen contém o diálogo seguinte:
Ele: Você não percebeu que faz muito tempo que eu estou apaixonado por você??
Ela: Nem sequer percebi que eu mesma estava apaixonada por você.
Boa parte de nossa conduta depende do jeito que percebemos o mundo -ou seja, da maneira como o mundo entra pelas janelas de nosso cérebro, umas janelas que podem ter os cristais sujos ou lascados, ou inclusive estar coloridos de pink ou de verde, e nós não ser conscientes do tema.
Durante um almoço recente, no qual falamos de bastantes livros e de um pouco de psicologia, Josep Gajo me recomendou a leitura de Si no lo creo, no lo veo (Se não acredito, não vejo) de Xavier Guix publicado pela editora Granica (Barcelona, 2005). Trata-se de um ensaio ameno e documentado que desenvolve, como indica seu subtítulo "o processo de construção de nossa própria imagem do mundo e de nós mesmos".
Tentar solucionar a incógnita da distância entre a realidade e a maneira como nós a percebemos é um dos assuntos interessantes e atualmente candentes da neurologia e das ciências da conduta. E muitos artistas usam esta imperfeição da percepção para suas criações.
Agora mesmo, a feira de arte contemporâneo ARCO 2007 (Madrid, 15 - 19 de fevereiro), tem em exposição algumas obras de Joan Fontcuberta, um ótimo fotógrafo que ja tocou o assunto da percepção visual e tem feito pensar muito sobre a credibilidade das coisas que vemos. Na ARCO, também expõe o engenhoso artista de Cabo Verde Albertino Silva: usa sapatos velhos para recriar passarinhos ou cabeças de leão mediante um hábil exercício de sugestão.
Faz duas semanas, o suplemento CULTURAS do jornal La Vanguardia de Barcelona dedicou suas páginas centrais a Hanoch Piven, um caricaturista genial que simplifica ao máximo os personagens que ele retrata e consegue que o cérebro do espectador faça uma reconstrução mental da imagem do personagem original a partir de alguns detalhes que seduzem os neurônios e os obrigam a buscar nos arquivos da memória.
A imperfeição da percepção, que deixa brincar aos artistas, também é uma fonte de conflitos e mal-entendidos. Ser conscientes de nossas limitações na percepção contribui á relativizar algumas situações. O livro de Xavier Guix fala bastante do tema.
[Tradução do autor - Me desculpe os erros]
Enlaces de interesse:
Melinda e Melinda
Xavier Guix
Joan Fontcuberta, fotógrafo catalão
Albertino Silva, artista de Cabo Verde
Hanoch Piven, retratista
Blog de Hanoch Piven
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Mas, que tem de certo, o que percebo?
Postado por Albert Figueras às 18:16
Marcadores: otimizar a vida, pessoas
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