domingo, 18 de fevereiro de 2007

Mas, que tem de certo, o que percebo?

Uma cena do filme Melinda e Melinda de Woody Allen contém o diálogo seguinte:
Ele: Você não percebeu que faz muito tempo que eu estou apaixonado por você??
Ela: Nem sequer percebi que eu mesma estava apaixonada por você.

Recordando a Maigritte

Boa parte de nossa conduta depende do jeito que percebemos o mundo -ou seja, da maneira como o mundo entra pelas janelas de nosso cérebro, umas janelas que podem ter os cristais sujos ou lascados, ou inclusive estar coloridos de pink ou de verde, e nós não ser conscientes do tema.

Durante um almoço recente, no qual falamos de bastantes livros e de um pouco de psicologia, Josep Gajo me recomendou a leitura de Si no lo creo, no lo veo (Se não acredito, não vejo) de Xavier Guix publicado pela editora Granica (Barcelona, 2005). Trata-se de um ensaio ameno e documentado que desenvolve, como indica seu subtítulo "o processo de construção de nossa própria imagem do mundo e de nós mesmos".

Tentar solucionar a incógnita da distância entre a realidade e a maneira como nós a percebemos é um dos assuntos interessantes e atualmente candentes da neurologia e das ciências da conduta. E muitos artistas usam esta imperfeição da percepção para suas criações.

Agora mesmo, a feira de arte contemporâneo ARCO 2007 (Madrid, 15 - 19 de fevereiro), tem em exposição algumas obras de Joan Fontcuberta, um ótimo fotógrafo que ja tocou o assunto da percepção visual e tem feito pensar muito sobre a credibilidade das coisas que vemos. Na ARCO, também expõe o engenhoso artista de Cabo Verde Albertino Silva: usa sapatos velhos para recriar passarinhos ou cabeças de leão mediante um hábil exercício de sugestão.

Faz duas semanas, o suplemento CULTURAS do jornal La Vanguardia de Barcelona dedicou suas páginas centrais a Hanoch Piven, um caricaturista genial que simplifica ao máximo os personagens que ele retrata e consegue que o cérebro do espectador faça uma reconstrução mental da imagem do personagem original a partir de alguns detalhes que seduzem os neurônios e os obrigam a buscar nos arquivos da memória.

A imperfeição da percepção, que deixa brincar aos artistas, também é uma fonte de conflitos e mal-entendidos. Ser conscientes de nossas limitações na percepção contribui á relativizar algumas situações. O livro de Xavier Guix fala bastante do tema.

[Tradução do autor - Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
Melinda e Melinda
Xavier Guix
Joan Fontcuberta, fotógrafo catalão
Albertino Silva, artista de Cabo Verde
Hanoch Piven, retratista
Blog de Hanoch Piven

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