sábado, 10 de fevereiro de 2007

Odisséias

"Nos cruzeiros de luxo, a média de idade está entre os setenta e cinco anos e a morte".
Me esbarro com esta frase do último livro de Javier Reverte, La aventura de viajar (A aventura de viajar), um presente do meu amigo Mariano Madurga.
riuParana-Tigre (9)
Estes dias lembrei alguns trechos da Odisséia ao ler as sucessivas notícias sobre o drama do cargueiro Marine I, que passou uma semana fundeado no limite das águas jurisdicionais da Mauritânia, ao parecer com quase 400 pessoas a bordo, a maioria originárias da Ásia e, outras, de origem subsahariano. Parece que o barco tem passado dois meses no mar e ainda se desconhece o estado de saúde dos passageiros, mas algumas ONGs tem prontos dispositivos de atenção sanitária em Nuadibú, onde foi autorizado o desembarque.

Ítaca -como metáfora- e os objetivos que as pessoas se colocam na vida, não sao alheios aos fenômenos migratórios que tantas páginas ocupam. Também não a pobreza (ou, melhor ainda, as desigualdades sociais).

Numa recente entervista, o sociólogo Alain Touraine explicou: "Sustento que num continente como o nosso [a Europa], e a nível mundial, o problema central continua sendo a desigualdade e a exclusão social" (El Periódico de Cataluña, 28-01-2007).

Talvez seria preciso divulgar mais os resultados de pesquisas como a que descreve a jornalista Amanda Mars na sua reportagem Coisas que o dinheiro pode comprar ou não, no qual repete o que alguns sociólogos e economistas tem demosntrado mais de uma vez: a partir de um nível mínimo de ingressos, o esforço que supõe conseguir mais dinheiro não é direitamente proporcional á felicidade que ele traz. O estudo descrito na reportagem cifra este mínimo em 15.000 dólares anuais (32.000 reais).

A chave, como sempre, está no que significa "felicidade" para as pessoas: se é aquela ilusão apoiada pelo consumismo enlouquecido e sem freio, com seus paraísos de papelão com falsos cenários e sonhos de papel cuchê, ou, pelo contrário, se é a sensação de bem-estar que produzem em nós as coisas pequenas (que com freqüência não é preciso comprar).

[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
La aventura de viajar - Javier Reverte
Notícia do Marine I (10-02-2007)
Cosas que el dinero puede comprar, o no

Nenhum comentário: