quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Des-humanizando

Uns anos atrás, Eudald Carbonell, um dos pesquisadores da jacida de Atapuerca, publicou um livro titulado Ainda não somos humanos. Sua hipótesi era que ao Homo sapiens ainda lhe tem muito caminho na frente até chegar á humanização completa.

espejo de la sociedad

Como explica Carbonell, apesar da revolução da técnica, a espécie humana não estará totalmente humanizada até o momento en que um pensamento social crítico permita uma vida melhor para todos e a solidaridade seja uma marca de nossa espécie.

Lembrei este livro o outro domingo lendo uma notícia no jornal de Barcelona La Vanguardia e uma entervista no Magazine do mesmo jornal. Antonio Cerrillo colocou o seguinte título na notícia: "Tratamento de deshumanização", e explica o estudo que estão fazendo sobre a maneira de conseguir deshumanizar os macacos criados em circos e outros espetáculos. A pesquisa, dirigida por uma equipe da Universitat Rovira i Virgili de Tarragona, analiza o processo pelo qual esses primates esquecem o hábito de dançar sevilhanas ou de fumar.

"É tanta a impregnação das condutas humanas nestes animais que eles não as esquecem mais", comenta uma das pesquisadoras.

A entervista a Syney Possuelo no Magazine titula-se "Se você calibra pela capacidade de sorrir, os índios são mais felizes que nós". Ele foi diretor da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e explica sua experiência tratando de preservar os espaços dos indígenas do Amazonas da invasão dessa técnica que fala Carbonell: a do carro, a do celular e a dessa guerra mundial meio escondida que estamos sofrendo des de començos do século 21. Ele se pergunta se são realmente essenciais.

Os contrastes ainda são uma boa forma de percever algumas coisas, de provocar um automatismo no relé neuronal para comenzar a pensar. Então, só é preciso, afiar o espírito crítico, que é o motor para tentar melhorar as coisas.

[Tradução do autor. me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Entervista a Eudald Carbonell
Entervista a Sydney Possuelo
Funais

sábado, 23 de junho de 2007

Proibido ler

Quando a emblemática libraria Robafaves de Mataró (Barcelona) fiz 20 anos, Toni Cantó me presenteou uma edição especial de alguns contos de Voltaire com o título Sobre o horrível perigo da leitura.

Fachada-espejo

O primeiro motivo que do muftí Iussuf-Xeribí para condenar a recente chegada da imprensa é: Evidentemente, a facilidade de comunicar os pensamentos tem tendência a disipar a ignorancia, que é a guarda e a salvaguarda dos estados bem administrados.

Ontem lembrei este conto enquanto voltava para casa depois de acompanhar o paulistano José Castilho até o hotel onde fica estes dias, aquí em Barcelona. Tomamos cafezinho, champagne e o bolo tradicional de são Jõao (a coca) com Jordi e María, falando e rindo. José explicou para nós uma louvável iniciativa que está desenvolvendo o governo do Brasil no marco do Plano Nacional do Livro e Leitura. Tráta-se duma proposta desenvolvida no Ceará, onde 175 jovens e adultos especialmente treinados, são "agentes de leitura" com a missão de aproximar os livros ás pessoas. José nos mostrou uma bela coleção de ifotografias de crianças, adultos e idosos escutando como as palavras tecem histórias entranháveis, mágicas, surpreendentes ou tristes.

Lembram Antonio José Bolívar Proaño, o protagonista de Um velho que lia romances de amor, de Luís Sepúlveda?

Antonio José Bolívar Proaño tirou a dentadura postiça, a colocou embrulhada no lenço e, sem parar de praguejar o gringo inaugurador da tragédia, o prefeito, os garimpeiros, e todos os que prostituíam a virginidade da sua Amazonia, cortou um galho com o facão e, se apoiando nele, començou a caminhar em direção a El Idilio, a sua barraca, e a seus romances que falavam de amor com palavras tao bonitas que, às vezes, lhe fazíam esquecer a barbárie humana.

Agentes de leitura, uma dessas ocupações "simbiônticas", nas quais as duas partes tiram benefício. Quem, sorridente, tem acesso ao conteúdo do livro e quem, ao olhar o rosto sorridente experimenta uma emoção semelhante, em virtude da nova teoria dos "neurônios espelho".

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Entrevista a José Castilho - sobre a leitura no Brasil
Plano Nacional do Livro e Leitura
Neurônios espelho

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Fragância antiestresse

Estes dias, celebra-se a amostra Vilassar de Mar, un mar de flors, uma proposta popular para exaltar a primavera, dar rédea á criatividade, invitar ás pessoas a sair prá rua e estimular, além da vista, o olfato.

Jardí imaginari

A amostra tem 14 espaços onde foram recriados jardins aproveitando recantos que, ás vezes, passamos tantas voltas perto deles, que não os prestamos bastante atenção.

Acho muito bacana uma obra titulada "Jadim imaginário" que, seguindo a idéia original de Jordi Abelló, preoparou a Escola d'Art Floral da Catalunha no número 22 da rua Montserrat. A creação encontra-se num jardim que fica un metro por debaixo do nível da rua, no minúsculo espaço semi-uterino que são alguns dos pátios das antigas casas da vila da costa onde, além de tres ou quatro árvores de tronco grosso e boa sombra, costuma a ter uma fontezinha que proporciona uma agradável sensação auditiva de calma e frescor, e algum mosaico que cobre a parte baixa das paredes que o separam da casa do vicinho.

Este jardim imaginário mostra uma onírica nuvem vermelha onde os cravos -cujo cultivo substituiu faze anos o das famosas batatas da comarca do Maresme- parecem levitar ao encontro do nariz do visitante.

Desgraçadamente, muitos cravos já não desprendem aroma nenhum. E é uma pena, porque alguns estudos científicos mostram o potente efeito das fragâncias (e da lembrança de alguns aromas) para aumentar as concentrações de oxitocina, uma substancia muito relacionada com uma melhor adaptação das pessoas á seu ambiente social e com potente efeito antiestrés. Outro dos placebos com que nos presentea a natureza e que, com bastante freqüência, não sabemos aproveitar.

Achamos que perder a dependência do olfato é um signo da evolução, e tiramos o aroma dos alimentos e das flores, unificamos as fragáncias com aerosoles artificiais e lutamos contra nosso próprio cheiro. Talvez todo isso seja um erro.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Nota de Albert Calls sobre a amostra (em catalão)

sábado, 2 de junho de 2007

Bulimia emocional

No Panamá, conheci uma pessoa a quem você não pode perguntar aquele tópico: "O que você está lendo?" (para substituir o comentário ainda mais batido sobre algum aspeto do clima).

Piel de cocodrilo

E não é exatamente que a pessoa não goste de ler; muito pelo contrário: tem a capacidade para engolir un romance enteirinho em duas horas e, além disso, entrar no argumento, fazer acertados comentários críticos sobre os personagens ou a técnica narrativa. Me comentava: "Às vezes, sinto muito ser tão rápida porque perco o prazer de saborear a leitura".

Lembro esta frase ao colocar certo ordem eletrônico nas fotografías que tirei no Panamá e achar a que coloquei mais para cima. A sexta tinhamos programada a visita a dois hospitais de Coclé, a umas duas horas da capital. Ao terminar, nos detuvimos a paramos a almoçar chicharrones e milho na fonda La Fula, na vera da estrada de Aguadulce, com a intenção de não demorar muito e chegar á cidade antes da tranca do tránsito das sextas as cinco da tarde.

Aguadulce tem cana de açúcar e tem salinas. E tem praias no lado do Pacífico e algum porto esportivo, me falaram. Perguntei se tinha manguezais, e minha pergunta acabou dando ao dia a virada inesperada que dao as coisas quando as pessoas não se emperram em segurar as rédeas da vida com excessiva força por temor ao desconhecido.

O motorista da nossa perua tem um cunhado que mora em Antón, do lado da lagõa, e lançou a proposta de ir até lá. Uma de suas ocupações é caçar jacarés para comer com um anzol e, nos mostrou quatro ou cinco peles que tinha amontoadas perto da garagem de latão e tábuas de madeira. Acabamos a tarde bevendo água de coco que pegou da árvore e olhando o tempo passar, falando en umas redes que tinha pinduradas na sacada, enquanto na cidade de Panamá caia uma chuva tropical e algumas pessoas se desesperavam dentro do carro.

Como escreve Michel Lacroix no seu ensaio O culto das emoções, freqüêntemente a ânsia por vivir emoções "fortes" e "constantes", reduz a capacidade para admirar o redor e o saborear. Já falamos isso outras vezes: é necessário buscar a esponjosidade do tempo, o efeito levedura.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Penonomé - un cacique torturado por culpa del oro
Aguadulce
Michel Lacroix - Le culte de l'émotion

segunda-feira, 28 de maio de 2007

O dia que Lucía Etxebarria salvou minha vida

Coincidência. A IV Feria do Livro de Panamá coincide com uma visita que tenho que fazer na Universidade deste país e Priscilla Delgado, presidenta da Cámara Panameña del Libro, me invitou para apresentar Otimizar a Vida neste espacio.

Avenida Central

O sábado de manhã, Víctor Serrano decide me mostrar que Panamá é bem mais do que o tópico canal -e lhe agradeço muito a iniciativa, porque isso me fiz descobrir a beleza do bairro antigo da cidade-. Pelo jeito, após do saqueio do panamá Viejo pelo pirata Morgan a meados do século XVII, os sobreviventes construiram uma zona fortificada do outro lado da baía, que cheogou a ter o máximo esplendor a principios do século XX.

Posteriormente, o bairro velho cedeu protagonismo aos arranha-céus onde se cozinham os negócios modernos e se converteu em subúrbio até que alguma pessoa decideu inverter na restauração dos frágis edifícios que parecem desmoronar-se como a cinza. Como em muitas outras capitais, o turismo e o lazer noturno (os dois com seus dólares) empurram os inversores para recuperar os edifícios mais emblemáticos e aproveitar o piso térreo para colocar restaurantes, barzinhos e lojas.

Até o bairro velho chega-se pela Avenida Central. É uma rua de pedestres com grandes lojas aos dos lados que fornecem todo tipo de produtos ás pessoas que ainda não preferem os shoppings. Se uma pessoa não tem vontade de comprar, pode se dedicar a levantar os olhos por encima dos cartazes publicitários gigantes que cobrem a parte inferior dos prédios, até o primeiro ou o segundo andar. Atrás da crosta de pranchas de zinco mal pintadas, tábuas de madeira, cartazes de néon caolhos e lonas mais ou menos surradas, esconden-se interesantes edifícios, neoclássicos, modernistas e art-déco.

Curioso. Uma ruazinha muito estreita cruza a Avenida Central; eles a chamam de rua "Sal-si-puedes" (saia-se-puder). Tráta-se de un corredor estreito e oscuro com peqenas bancas de-todo-um-pouco lsuperpostas umas com as outras. "Aquí a gente acha qualquer coisa", me explicou o Víctor.

Cronometrado. Caminho devagar mas a passo constante, conversando com o Víctor. De repente, ele me pergunta pela obra literária de Lucía Etxebarría, uma escritora convidada na féria. Largo alguns títulos até que fico encalhado nos "corpos celestes". Duvido entre Laura, Andrea e Eva; porém, nenhum desses nomes me parece familiar. Saia dessa, se puder. E parei o passo como se caminhar não me deixase lembrar.

Em boa hora! Beatriz e os corpos celestes me sai da boca no mesmo momento que vejo cair livremente um enorme cartaz que estava pindurado embaixo de uma gran pantera cor de rosa; o cartaz ficou um caco dez metros mais para frente sobre a linha onde caminhamos. Os corpos celestes caíram sobre a calçada e naquele momento tive a sensação que Lucía Etxebarría salvou-me -pelo menos- de uma boa batida e alguns cortes.

Muitas vezes o ser humano obsesiona-se com a segurança e sente ansiedade pela incerteza, sem ser consciente de que o futuro imediato é tão ingobernável como um furacão ou um río de lava. Não existe horóscopo para adivinhar isso.

No seu poema Luz (do poemario "Actos de Amor y de Placer"), Lucía escreveu:

Quién sabe si fue azar o fue destino
(dos palabras opuestas pero iguales)
quién conjuró el minuto
quién conjuró el momento
en que un rayo de luz llegado de vete a saber dónde
(muchos dirían que de mi delirio)
(...)


[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
Cidade de Panamá
Lucía Etxebarría

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Rotas, caminhos e veredas

Um dos ritmos silábicos que, faz séculos, chama a atenção de poetas e leitores é o 5-7-5 japonés, conhecido como haiku. O romancista do Uruguay Mario Benedetti publicou uma excelente coleção de haikus. Um deles diz:

las hojas secas
son como el testamento
de los castaños



Ruta del colesterol

Me lembro do livro de Benedetti (Rincón de haikus, Madrid: Visor, 1999; México: Alfaguara, 1999) por associação de idéias enquanto Luis Brizuela é meu cicerone em A Coruña, antes de participar no VI Paseo de la Salud organizado pelo Conselho Oficial de Farmacêuticos da província. Luis me leva pelo renovado passeio marítimo, desde o meu hotel, perto dos jadins Méndez Núñez , até além da praia de Riazor.

Ás cinco da tarde de uma sexta de primavera, com o céu cinzento e o mar tranqüilo, esperando uma chuva que parece inevitável, muitas pessoas correm, caminhan de pressa, praticam footing ou simplesmente passeiam. "A gente a chama de rota do colesterol", me explica Luis.

Perto da meta do concorrido caminho de Santiago, num cruzamento de culturas celtas e íberas, farol poderoso de uma via marítima difícil, mas freqüentada, sacada última dessa "terra ignota" que antigamente foram os oceanos -igual como é ignota a vida para qualquer pessoa, a partir deste mesmo instante.


Como escreveu Benedetti:

en la lontananza
se ven lenguas de fuego /
aquí hay rocío



[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
Mario Benedetti - Haikús