sábado, 23 de junho de 2007

Proibido ler

Quando a emblemática libraria Robafaves de Mataró (Barcelona) fiz 20 anos, Toni Cantó me presenteou uma edição especial de alguns contos de Voltaire com o título Sobre o horrível perigo da leitura.

Fachada-espejo

O primeiro motivo que do muftí Iussuf-Xeribí para condenar a recente chegada da imprensa é: Evidentemente, a facilidade de comunicar os pensamentos tem tendência a disipar a ignorancia, que é a guarda e a salvaguarda dos estados bem administrados.

Ontem lembrei este conto enquanto voltava para casa depois de acompanhar o paulistano José Castilho até o hotel onde fica estes dias, aquí em Barcelona. Tomamos cafezinho, champagne e o bolo tradicional de são Jõao (a coca) com Jordi e María, falando e rindo. José explicou para nós uma louvável iniciativa que está desenvolvendo o governo do Brasil no marco do Plano Nacional do Livro e Leitura. Tráta-se duma proposta desenvolvida no Ceará, onde 175 jovens e adultos especialmente treinados, são "agentes de leitura" com a missão de aproximar os livros ás pessoas. José nos mostrou uma bela coleção de ifotografias de crianças, adultos e idosos escutando como as palavras tecem histórias entranháveis, mágicas, surpreendentes ou tristes.

Lembram Antonio José Bolívar Proaño, o protagonista de Um velho que lia romances de amor, de Luís Sepúlveda?

Antonio José Bolívar Proaño tirou a dentadura postiça, a colocou embrulhada no lenço e, sem parar de praguejar o gringo inaugurador da tragédia, o prefeito, os garimpeiros, e todos os que prostituíam a virginidade da sua Amazonia, cortou um galho com o facão e, se apoiando nele, començou a caminhar em direção a El Idilio, a sua barraca, e a seus romances que falavam de amor com palavras tao bonitas que, às vezes, lhe fazíam esquecer a barbárie humana.

Agentes de leitura, uma dessas ocupações "simbiônticas", nas quais as duas partes tiram benefício. Quem, sorridente, tem acesso ao conteúdo do livro e quem, ao olhar o rosto sorridente experimenta uma emoção semelhante, em virtude da nova teoria dos "neurônios espelho".

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Entrevista a José Castilho - sobre a leitura no Brasil
Plano Nacional do Livro e Leitura
Neurônios espelho

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Fragância antiestresse

Estes dias, celebra-se a amostra Vilassar de Mar, un mar de flors, uma proposta popular para exaltar a primavera, dar rédea á criatividade, invitar ás pessoas a sair prá rua e estimular, além da vista, o olfato.

Jardí imaginari

A amostra tem 14 espaços onde foram recriados jardins aproveitando recantos que, ás vezes, passamos tantas voltas perto deles, que não os prestamos bastante atenção.

Acho muito bacana uma obra titulada "Jadim imaginário" que, seguindo a idéia original de Jordi Abelló, preoparou a Escola d'Art Floral da Catalunha no número 22 da rua Montserrat. A creação encontra-se num jardim que fica un metro por debaixo do nível da rua, no minúsculo espaço semi-uterino que são alguns dos pátios das antigas casas da vila da costa onde, além de tres ou quatro árvores de tronco grosso e boa sombra, costuma a ter uma fontezinha que proporciona uma agradável sensação auditiva de calma e frescor, e algum mosaico que cobre a parte baixa das paredes que o separam da casa do vicinho.

Este jardim imaginário mostra uma onírica nuvem vermelha onde os cravos -cujo cultivo substituiu faze anos o das famosas batatas da comarca do Maresme- parecem levitar ao encontro do nariz do visitante.

Desgraçadamente, muitos cravos já não desprendem aroma nenhum. E é uma pena, porque alguns estudos científicos mostram o potente efeito das fragâncias (e da lembrança de alguns aromas) para aumentar as concentrações de oxitocina, uma substancia muito relacionada com uma melhor adaptação das pessoas á seu ambiente social e com potente efeito antiestrés. Outro dos placebos com que nos presentea a natureza e que, com bastante freqüência, não sabemos aproveitar.

Achamos que perder a dependência do olfato é um signo da evolução, e tiramos o aroma dos alimentos e das flores, unificamos as fragáncias com aerosoles artificiais e lutamos contra nosso próprio cheiro. Talvez todo isso seja um erro.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Nota de Albert Calls sobre a amostra (em catalão)

sábado, 2 de junho de 2007

Bulimia emocional

No Panamá, conheci uma pessoa a quem você não pode perguntar aquele tópico: "O que você está lendo?" (para substituir o comentário ainda mais batido sobre algum aspeto do clima).

Piel de cocodrilo

E não é exatamente que a pessoa não goste de ler; muito pelo contrário: tem a capacidade para engolir un romance enteirinho em duas horas e, além disso, entrar no argumento, fazer acertados comentários críticos sobre os personagens ou a técnica narrativa. Me comentava: "Às vezes, sinto muito ser tão rápida porque perco o prazer de saborear a leitura".

Lembro esta frase ao colocar certo ordem eletrônico nas fotografías que tirei no Panamá e achar a que coloquei mais para cima. A sexta tinhamos programada a visita a dois hospitais de Coclé, a umas duas horas da capital. Ao terminar, nos detuvimos a paramos a almoçar chicharrones e milho na fonda La Fula, na vera da estrada de Aguadulce, com a intenção de não demorar muito e chegar á cidade antes da tranca do tránsito das sextas as cinco da tarde.

Aguadulce tem cana de açúcar e tem salinas. E tem praias no lado do Pacífico e algum porto esportivo, me falaram. Perguntei se tinha manguezais, e minha pergunta acabou dando ao dia a virada inesperada que dao as coisas quando as pessoas não se emperram em segurar as rédeas da vida com excessiva força por temor ao desconhecido.

O motorista da nossa perua tem um cunhado que mora em Antón, do lado da lagõa, e lançou a proposta de ir até lá. Uma de suas ocupações é caçar jacarés para comer com um anzol e, nos mostrou quatro ou cinco peles que tinha amontoadas perto da garagem de latão e tábuas de madeira. Acabamos a tarde bevendo água de coco que pegou da árvore e olhando o tempo passar, falando en umas redes que tinha pinduradas na sacada, enquanto na cidade de Panamá caia uma chuva tropical e algumas pessoas se desesperavam dentro do carro.

Como escreve Michel Lacroix no seu ensaio O culto das emoções, freqüêntemente a ânsia por vivir emoções "fortes" e "constantes", reduz a capacidade para admirar o redor e o saborear. Já falamos isso outras vezes: é necessário buscar a esponjosidade do tempo, o efeito levedura.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros.]

Enlaces de interesse:
Penonomé - un cacique torturado por culpa del oro
Aguadulce
Michel Lacroix - Le culte de l'émotion