sábado, 24 de março de 2007

O ônibus nº 8

O Professor Girassol hospedou-se no quarto 122 do Hotel Cornavin de Genevra. Porém, quando Hergé publicou O Caso Girassol, este quarto não existia; foi colocado numa das remodelações devido á insistência dos tintinólogos para alojar-se nela. Hoje, um Tintim de dois metros da a bem-vinda aos hóspedes.

Hotel Cornavin


Mas esta não é a única curiosidade do Cornavin; neste hotel também está o relógio mais alto do mundo: trata-se de um engenho mecânico de 30,2 metros de altura colocado no buraco da escada.

La place Cornavin possui um charme especial. Ali está a estação central de Genevra, nela començam algumas ruas que conduzem inevitávelmente até o lago Léman e, além disso, aí tem um do seus pontos o ônibus da linha 8. Este ônibus tem a particularidade de se parar perto da sede de alguns organismos internacionais -como a Unicef, a OMS, a ONU, ou a Organização Internacional do Trabalho-; assim, num trajeto curto de poucos minutos é possível identificar pessoas de dez ou quinze paises distintos e escutar bastantes idiomas dessa maravilhosa Babel dos 6.912 idiomas vivos que existem no mundo.

Um passageiro portugués sentado no meu lado, antes de descer do ônibus me oferece o Correio da Manhã que acabou de ler. Acho um artigo que descreve a recente publicação de António Damásio no jornal Nature, onde descreve os resultados de um surpreendente estudo que demostra a relação das emoções nos juízos morais: observou que as lesões da área ventromedial do córtex cerebral prefrontal afetam o resultado de alguns tipos de juizo pelos quais uma determinada ação normalmente produz aversão moral. São pessoas que ten uma marcada redução das emoções sociais -as que provocam a culpa, a vergonha ou a compaixão-, e poderia explicar porquê existem indivíduos que matam "em nome do bem coletivo". Quem sabe se algum dia será obrigatório se fazer um scanner antes de presidir paises ou de dirigir exércitos.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
Tintim e o Hotel Cornavin
Ethnologue - Idiomas do mundo
A. Damásio - Lesões no cérebro influenciam moral

sábado, 17 de março de 2007

O chefe do chefe

"O melhor do personagem é o que o personagem não é", diz Kristoffer a Ravn, o protagonista de O Chefe de tudo isso ("Direktoren for det hele"), o último filme de Lars von Trier.

Boss' eye

Em resumo: Ravn é dono de uma empresa de informática e decideu se inventar o Chefe de tudo issopara lidar tranqüilamente com sua meia dúzia de empregados e poder tomar decisões sem a incomodidade de ter que carregar com a culpa nem ser o alvo das críticas nem da ira dos trabalhadores. Quando Ravn quer vender sua empresa a ums islandeses que cismam para tratar direitamente com esse personagem, se ve forçado a contratar Kristoffer, um ator desempregado, para que visite a oficina durante uma semana, interpretando a esse Big Brother.

O medo e as aparências são os melhores aliados do poder, as melhores armas para conseguir a submissão. Apariências para vestir um corpo humano e medo pra afastar aos outros sem ter que depender constantemente de um par de socos. A estratégia roça a fronteira do "ideal" se é possível descaregar a culpa -possívelmente o esporte com mais adeptos do mundo, mais do que o futebol-, sobretudo se esse culpável é como um deus invisível e distante, pai de todo mal.

Um curioso artigo de Patricia F. de Lis no jornal espanhol El País de hoje leva o título 750 milhões de euros para enganar o Google. Fala das empresas dedicadas a conseguir que outras empresas estejam nos primeiros lugares dos buscadores como Google usando manipulações -que, ao mesmo tempo, permitem "maquiar" as páginas que falam mal dos interessados-.

O mesmo filme de Lars von Trier engana (mas engana no bom sentido): não é a comédia levinha que anuncia o narrador ao começo. É o espelho cruel que mostra a conduta de qualquer grupo humano onde um indivíduo tenha (ou deseje) o poder sobre os outros. Ainda não identificaram a situação laboral de nenhum conhecido?

[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
O Chefe de tudo isso
Trailer de "El Jefe de todo esto"
750 millones para engañar a Google

sábado, 10 de março de 2007

40 horas de paciência

No filme A vida dos outros, o capitão Gerd Wiesler, competente oficial da Stasi, ensina a seus alunos que, para conseguir que o prisioneiro confesse, "tem que ter paciência, 40 horas de paciência".

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No inquietante romance de ciência-ficção (ou, deveríamos dizer de ciência-anticipação?) "Mil novecentos oitenta e quatro", George Orwell escreve:

É claro, não era possível saber quando vigilavan a gente. Não era mais que uma conjetura saber quantas vezes e como a Polícia do Pensamento captava a comunicação da gente.

A vigilância a que o ser humano submete á seus congêneres é uma das condutas que lhe diferencian dos animais. Alguns anos atrás, o paleontólogo Stephen Jay Gould escriveu um artigo no qual falava dos muros de ouro que alguns pensadores e científicos tinham levantado para tentar preservar e diferenciar o ser humano dos outros animais. Os tijolos destes muros eram condutas como a fabricação de ferramentas, a capacidade de abstração ou a cultura.

Porém, bastantes estudos publicados nos últimos anos tem demostrado que algumas espécies animais (especialmente alguns primates) são capazes de fabricar instrumentos e de os usar. Algumas observações demostram que alguns pássaros podem planificar seu futuro (outra das capacidades supostamente de exclusividade humana) e armazenar alimentos em lugares estratégicos para épocas de penúria. Inclusive os pesquisadores descobriram padrões culturais em colônias de macacos.

Faz tempo que sabemos que, por exemplo, entre as formigas ou as abelhas, existem rainhas e obreiras; existen sindicatos? Bom, provavelmente não com este nome; mas, também descobriram condutas cooperativas em espécies animais, padrões de comportamento que não beneficiam direitamente ao indivíduo, e sim a comunidade.

Inclusive uma coisa como o conforto em casa, também não é exclusivamente humano: alguns grandes primates, antes de se sentar buscam folhas onde colocar suas nádegas, como una almofada fofa para não se sentar direitamente na desagradável umidade da floresta.

Á vista destas pesquisas, talvez os dois últimos muros dourados seríam o dinheiro e o sistema policial. Condutas como o pagamento a outros congêneres em troca pelo trabalho (o uso do "dinheiro") -o que está estreitamente relacionado com o conceito da escravidão-, ou o julgamento moral e, com ele, a existência da polícia que permite que um indivíduo com poder controle outros indivíduos sem esse poder. Se for assim, é muito triste o que nos separa dos outros animais.

A vida dos outros é uma excelente reflexão sobre o sistema policial. Para os interessados, um artigo de José Comas explica a experiência pessoal do próprio intérprete do filme: a esposa do ator Ulrich Mühe foi informadora da Stasi.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
A vida dous outros
Trailer - A vida dos outros
A vida dos outros - ficha têcnica
George Orwell - 1984
Trailer - 1984
El actor, su mujer y la Stasi

domingo, 4 de março de 2007

Eclipses e nuvens de chuva

Algumas pessoas se interessaram mais pelos eclipses ao ler as aventuras de Tintim no Templo do Sol do que olhando o esquema tradicional que aparece nos livros da matéria de Ciências Naturais da escola.

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Apesar de que, como indica Víctor Ruíz no seu blog, no álbum é possível identificar algumas imprecisões astronômicas e possivelmente antropolôgicas -como a inverossímil reação de medo dos Incas frente a um fenômeno astronômico que supostamente conhecíam bem-, Hergé consegue transmitir várias idéias, como os ciclos da natureza e a mudança inerente a todo o que está vivo.

A referência nao é fútil. Este ano se comemora o centenário do nascimento de Hergé en Bruselas e a noite do 3 de marzo foi possível observar um eclipse total da lua desde Europa e alguns pontos de América.

A imagem do eclipse -igual como aquela da nuvem de chuva que esconde un momento a visão da luna cheia e bonita, ou a idéia de que a noite é, somente, o espaço entre dois dias ensolarados-, resulta útil para reflexionar sobre os altibaixos da vida, para os enfrentar sem tanto medo, com mais resiliéncia. Ter conscência de que todo tem data de caducidade (tanto o que é ruim quanto o que é bom), de que a vida é feita de ciclos que començam e acabam, é um ótimo exercício para malhar os neurônios e enfrentar a vida de maneira positiva, sem se perder pelo labirinto do medo ou o labirinto da incerteza.

[Tradução do autor. Me desculpe os erros]

Enlaces de interesse:
Página oficial de Tintim e Hergé
Actos do centenário do nascimento de Georges Remi -Hergé-
As aventuras de Tintim em portuuês
Cidades perdidas
Página dedicada aos eclipses
Livro Não Medo na empresa e na vida